Clovis Mello disse ao G1 que longa não é documentário ou biografia, mas uma mensagem de amor a ‘uma geração de pessoas que não encontram razão para viver’.

Por Luiza Garonce, G1 DF

01/09/2019 17h56  Atualizado há um dia

Previsto para ser lançado em 12 de setembro nos cinemas nacionais, “Divaldo, o mensageiro da paz” não é exatamente um documentário sobre a vida do médium baiano Divaldo Franco, de 92 anos. Tampouco tem a pretensão de ser um filme essencialmente biográfico, segundo o diretor, Clovis Mello.

O longa-metragem dedica-se à mensagem – a propagar o respeito, a caridade e, acima de tudo, o amor. Se é possível dizer que há algo em comum entre as religiões, este sentimento elevado seria o elo entre os deuses de uns e de outros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Embora acumule 72 anos de dedicação exclusiva à doutrina espírita, Divaldo Franco não foi retratado como uma figura glorificável no filme de Clovis Mello. Ao contrário, a humanidade e os percalços da vida mundana foram retratados de forma, por vezes, dura.

“Não queria santificar o Divaldo, porque algumas pessoas acham que ele nasceu assim, espiritualizado, elevado. Então achei que seria importante ele ‘apanhar’ para humanizar”, explicou ao G1. “E não tem nada mais entediante que ver um santinho o filme todo.”

“O Divaldo queria ter uma vida ‘normal’. Foi uma casualidade da vida ver espíritos e ele teve que superar todos os dramas.”

O roteiro do longa – que também foi elaborado por Clovis – levou em consideração relatos do médium e uma série de leituras sobre o espiritismo, além das obras de Joanna de Ângelis. Nem todos os diálogos ocorreram na vida real – a ordem cronológica também foi deixada de lado em alguns momentos.

“Tem muita coisa que saiu da minha cabeça. Alguns fatos também foram invertidos para envolver o espectador e não ter cara de documentário, mas os acontecimentos são reais”, explicou o diretor.

Santa de punho firme

Clovis disse ao G1 que chegou a viajar para Assis, na Itália, para conhecer o túmulo de Santa Clara – que seria a última encarnação de Joanna. A viagem foi uma sugestão do próprio Divaldo. “Quando cheguei na Basílica de São Francisco de Assis, fiquei 1 hora e 30 minuto trancado lá.”

“Fui buscar inspiração pro filme e acabei encontrando inspiração pra vida. Foi muito impressionante tudo o que aconteceu.”

O espírito de Joanna de Ângelis aparece, durante todo o filme, debaixo de véus brancos e azuis claros – como Divaldo diz enxergá-la até hoje. A figura serena de Santa Clara, porém, não externa a mesma sutileza com as palavras.

“Tudo o que é moralizante sai da boca dela, até porque ela só foi confiar na maturidade do Divaldo para psicografar suas obras quando ele completou 65 anos”, explica o diretor.

“O espírito da Joanna é muito firme mesmo. Ela não gosta de gracinha, é muito séria.”

Por isso, a escolha da atriz para interpretar a entidade passou pelo crivo do médium – e, inevitavelmente, da própria Joanna. “Apresentei umas cinco atrizes pro Divaldo e ele apontou pra Regiane [Alves].”

“A gente precisava estar de mãos dadas. Depois perguntei a ele se a Joanna estava gostando. Ele disse que ela estava achando ótimo o tanto que eu estava ‘acabando’ com ele.”

Como as obras da mentora – uma série de 16 livros – só foram publicadas depois que Divaldo estava idoso, Clovis tomou liberdade para incluir a psicologia de Joanna ao longo do filme, nas experiências do médium durante a juventude e a fase adulta.

“Tentava colocar os ensinamentos de inclusão, tolerância, contra o preconceito. E como o controle da mente, dos pensamentos, é determinante para saber se o espírito que está sendo atraído é elevado ou obsessor.”

Crítica à Igreja Católica

Em meio à trama, momentos importantes do filme fazem críticas à Igreja Católica enquanto instituição. Clovis Mello destaca, porém, que “o pior e o melhor da história” aparecem em personagens que seguem a religião.

O espírito obsessor de Divaldo é um padre que preferiu se manter na escuridão. Já Joanna, como Santa Clara, é uma freira. “Fazer um filme sobre amor e ficar vomitando raiva não faria mesmo sentido”, aponta o diretor.

“Uma coisa é expor a verdade, a Igreja não permite rezar missa para suicida até hoje. Mas tem o Papa Francisco, hoje, querendo mudar muita coisa.”