O longa foi criado pela produtora cearense Estação Luz, a mesma que coproduziu “Chico Xavier”
A disposição do líder espírita Divaldo Franco para circular pelo mundo e se comunicar com diversos públicos (entre encontros espíritas ou não) já mantém o baiano há 92 anos nesta vida. Mobilizador de uma obra social que atua na periferia de Salvador (BA) desde 1952 – A Mansão do Caminho, no Centro Espírita Caminho da Redenção, o médium agora tem sua história celebrada pelo cinema brasileiro.
Na próxima quinta (12), “Divaldo – O Mensageiro da Paz” entra em cartaz no circuito cinematográfico. Dirigido e roteirizado por Clóvis Mello, o novo filme é mais consistente em relação à série de filmes espíritas já lançados, a exemplo de “Chico Xavier” (2010), “Nosso Lar” (2010) e o recente “Kardec” (2019).
Cinema
No longa, os atores Bruno Garcia, Ghilherme Lobo e João Bravo interpretaram o protagonista na maturidade, juventude e infância, respectivamente. Rostos conhecidos do público, como Regiane Alves (no papel da mentora de Divaldo, Joanna de Ângelis) e Marcos Veras (o espírito que persegue o médium), ainda integram o elenco.
“Divaldo – O Mensageiro da Paz” acerta em retratar os fenômenos de intercâmbio mediúnico de um modo mais sutil e contextualizado com o enredo, diferente dos primeiros filmes do gênero. E da mesma forma que acontece no desenvolvimento de outros filmes espíritas, como “Kardec”, a obra versa sobre a dificuldade do espiritismo em encontrar campo para superar os preconceitos de lideranças católicas e costumes arraigados, na sociedade do século XX, quanto à manifestação da fé.
A narrativa se passa, a princípio, em Feira de Santana (BA), nos anos de 1930. Ainda criança, Divaldo ouve e vê espíritos e, com isso, sofre discriminação da própria família e da comunidade católica de sua terra natal.
Apoiado sobretudo pela mãe, Ana (Laila Garin), o baiano muda para Salvador (BA), se desenvolve como médium e orador espírita, além de se firmar no serviço em prol das pessoas carentes da periferia soteropolitana.
Posição
O diretor Clóvis Mello situa que o filme buscou posicionar Divaldo Franco como um agente humanitário, dedicado à caridade, para além da sua atuação reconhecida na seara espírita. A crítica recorrente aos filmes dedicados à divulgação do espiritismo gira em torno do apelo que as obras fariam para os já iniciados na doutrina de Allan Kardec.
“A obra social do Divaldo vai além disso. E a Mansão do Caminho atende a todos, independente da fé da pessoa. Então o filme não catequiza ninguém. Não é doutrinário: tem um gestual e um linguajar espírita, mas a ideia era fazer um longa metragem sobre um cara que acolheu todas aquelas crianças”, observa Clovis, destacando o trabalho do médium na assistência social.
Visão
Indagado como o filme mexeu com sua própria forma de encarar a vida, o diretor Clóvis Mello conta que a concepção do longa lhe ajudou a refletir sobre seu próprio ofício como cineasta, e a respeito do propósito que envolve uma obra artística.
“Cada um que trabalha no meio artístico, jornalístico, tem uma responsabilidade grande com o público. (Depois de fazer o filme) entendi por que tenho esse ofício. Essa capacidade pra filmar, isso chegou pra mim de uma forma maior. Finalmente, compreendi o que vim fazer neste mundo”, reflete.
Clóvis recapitula que o projeto do filme de Divaldo Franco foi criado pela produtora cearense Estação Luz, a mesma que coproduziu o longa “Chico Xavier” e promove a Mostra de Teatro Transcendental no Ceará.
“A gente tem projetos de todos os tipos na nossa produtora (A Cine, de SP). E de hoje em diante não faz mais sentido fazer um filme sobre violência pela violência: penso que há de servir pra alguma coisa, fazer algum sentido. Um filme envolve muito trabalho e dedicação”, situa o diretor.